domingo, 22 de agosto de 2010

Ruga


Quando somos muito novos, ouvimos uma série de calamidades sobre o que viria a ser a passagem pro outro mundo – o mundo dos adultos. Quando nos tornamos adultos, sobretudo quando somos jovens adultos, ficamos sabendo de uma outra série de passagens e rituais que nos farão mudar para um mundo mais absurdo ainda... mais distante e mais irrealizável mentalmente – o mundo dos idosos. Com certeza, o sentimento de conformismo nos traz alguma espécie de calmaria e nos trai, ao passo que quanto mais velhos ficamos mais nos acostumamos com a idéia de envelhecer. Quando estamos na flor da idade, pensamos que será uma tragédia muito grande ser um velho, alguns dizem que querem morrer antes de chegar à velhice, acabamos por perceber que, mesmo que pareça o extremo contrário agora, não é tão ruim. Outro dia li numa entrevista o Angeli dizendo que o que ele não gosta nesse negócio de estar velho é que ele perdeu um pouco da sua vitalidade. Contou, inclusive, uma história engraçada: ele disse que foi com a esposa a padaria e ela se dirigiu ao balcão pra comprar alguma coisa enquanto ele ficava esperando, sentado numa mesa. Quando ela voltou, ele estava cochilando. Isso é assustador. Perder a vitalidade física, mesmo não possuindo uma das melhores, me dá medo.


Toda espécie de coisas ruins sobre envelhecer, nós escutamos: perda dos dentes, fraqueza nas pernas, problemas na coluna, enfraquecimento na capacidade de visão, perda dos reflexos, impossibilidade de fazer sexo. Quanto a esta última, vi o Cacá Diegues numa entrevista ontem, e ele disse que mesmo com os seus setenta anos não parou de fazer sexo e que desconhece um caso dessa espécie entre seus amigos de mesma idade. Nessa hora a gente fica pensando se ele está falando isso abertamente porque quer acabar com essa farsa de que tudo tende a piorar com a velhice ou se é porque ele, mesmo com seus setenta anos, quer contar alguma espécie de vantagem. Eu sei que ele não tem necessidade nenhuma de contar vantagem sobre as coisas, o cara é um dos mais comemorados cineastas brasileiros, acho que é o que tem maior número de direção de longas no nosso país. Mas pensando bem, a gente sempre tem algum ponto no qual queremos parecer melhor do que realmente somos. Talvez ele esteja mentindo mesmo. Não importa.

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Esqueçam a luta política,
ponham de lado preocupações comerciais,
percam um pouco de tempo indagando,
inquirindo, remexendo.
Não se arrependerão.
Não
há gratificação maior do que o sorriso
de mãe em festa




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